Quem vê de fora o prédio do antigo Convento da Madre de Deus, em Lisboa, Portugal, não pode imaginar a riqueza que guarda a pequena igreja de mesmo nome em seu interior. As paredes internas da Igreja da Madre de Deus Lisboa são totalmente preenchidas por primorosas pinturas em azulejo, ornamentos em madeira talhada em ouro e muitas obras de arte.

Ali, tudo que reluz é ouro, sim, possivelmente levado do Brasil, já que a decoração foi realizada no período de maior exploração do metal na então Colônia (séculos XVII e XVIII), embora não haja documentos que comprovem isso. O brilho intenso e a riqueza de detalhes, especialmente no teto da cúpula sobre o altar principal, foi o que mais me chamou a atenção durante minha visita, em Novembro de 2017.

Interior da Igreja Madre de Deus: cúpula
Cúpula sobre altar principal da Igreja Madre de Deus, Lisboa. Foto: ©Museu Nacional do Azulejo

Mas a madeira da talha é originária de Portugal mesmo e não há um valor material estimado para todo esse patrimônio, informa a Assessoria do Museu Nacional do Azulejo, ao qual está integrada a Igreja. Já o patrimônio arquitetônico é reconhecido desde 1910, quando o prédio da Igreja da Madre de Deus passou a ser Monumento Nacional.

Uma rainha sob os pés do povo

Altar principal da Igreja da Madre de Deus, em Lisboa
Altar principal da Igreja da Madre de Deus. Foto: ©Museu Nacional do Azulejo
Pedra com inscrição indica local de sepultamento de rainha na Igreja
Inscrição na campa onde foi sepultada a Rainha D. Leonor, na entrada da Igreja. Foto: ©Museu Nacional do Azulejo

Uma das maiores curiosidades foi saber que ali está sepultada Dona Leonor, Rainha de Portugal entre 1481 e 1495. E não por acaso, já que foi ela quem mandou construir o Convento e a Igreja da Madre de Deus, no início dos anos 1.500. Ainda mais curioso é saber da histórica benevolência e humildade de Dona Leonor em contradição à exuberância e riqueza material impressas na decoração do pequeno templo católico nos séculos seguintes.

Falecida em 1525, a soberana foi sepultada em uma “campa rasa no claustro” (sob o piso), na entrada da igreja, por onde passam obrigatoriamente fieis e visitantes. O local onde seria seu sepultamento foi definido por ela.

D. Leonor é conhecida como uma das monarcas mais importantes da história do País, responsável por dar início à criação na Europa de hospitais para os pobres, as nossas também conhecidas “Santas Casas de Misericórdia”. O hospital de Caldas da Rainha é o maior exemplo e o nome da cidade não é coincidência, também tem relação direta com D. Leonor.

Igreja Madre de Deus Lisboa: do Manuelino ao Barroco

Exterior e porta principal da Igreja Madre de Deus
Fachada principal exterior da Igreja da Madre de Deus, em Lisboa. Foto: ©Museu Nacional do Azulejo

Assim, a discrepância entre a simplicidade da fachada da Igreja da Madre de Deus e seu interior, que comentei logo no início, explica-se por sua história. Embora tenha sido construída pela humilde Rainha Dona Leonor, foi alterada e decorada pelos monarcas que a sucederam e ao seu esposo (Rei Dom João II), como Dom Pedro II, Dom João V e Dom José I, provavelmente deslumbrados e empanturrados com a riqueza levada das colônias, a exemplo do ouro e madeira brasileiros.

O saldo é uma fachada que, embora alterada, ainda expressa a arquitetura original manuelina e um interior predominantemente barroco. Os painéis de azulejo são provenientes da Holanda, de autoria de Willem van der Kloet e Jan van Oort. Mas as séries de pinturas emolduradas com talha dourada, que retratam as histórias de São Francisco e Santa Clara, são de Bento Coelho da Silveira.

A Capela de Santo Antônio e o Coro, por exemplo, receberam assoalho de madeira do Brasil. Só que as missas não são mais realizadas regularmente na Igreja da Madre de Deus, vinculada à Paróquia de São Francisco, somente algumas cerimônias especiais e casamentos. Faz parte do circuito de visitação do Museu Nacional do Azulejo, que recebeu 219,4 mil pessoas em 2018.

Interior da Igreja Madre de Deus, Lisboa. Detalhes
Detalhes em lateral no interior da igreja. Foto: ©Museu Nacional do Azulejo

Sobre “templos maravilhosos” e a Igreja da Madre de Deus Lisboa

Embora não seja nem o maior, nem o mais incrível que já visitei, para mim, a Igreja da Madre de Deus, em Lisboa, é um templo maravilhoso! Por sua arte e, principalmente, por sua história e relação com o Brasil. Afinal, não é todo templo que nos ofusca a visão de tanto ouro e que tem uma rainha do cacife de Dona Leonor “aos nossos pés”. Por isso, esse post integra uma blogagem coletiva sobre templos maravilhosos. Confira a lista mais abaixo!

Convento Madre de Deus deu lugar a Museu do Azulejo

Selfie no Museu Nacional do Azulejo
Durante visita ao Museu Nacional do Azulejo, em Lisboa, Portugal

A utilização de prédios históricos como sedes de museus é mesmo algo que deu certo! E faz toda a diferença, pois a visita ganha muito mais sentido quando percorremos espaços que nos levam a “viajar no tempo”. A sensação que tenho às vezes é de que posso fazer parte daquela história, mas de certa maneira fazemos mesmo. A exemplo do Museu Nacional do Azulejo, sediado no antigo Convento da Madre de Deus, tantos outros em Portugal guardam relações com o nosso país.

E vice-versa! Possivelmente portugueses que visitarem também o Museu da Imagem e do Som de Campinas, em Campinas (SP), Brasil, sentirão o mesmo. O Museu fica no antigo Palácio dos Azulejos, que, aliás, tem esse nome porque boa parte da sua fachada foi decorada com azulejos portugueses. Bingo! Rs. Se quiser conferir, o post sobre essa visita está linkado acima.

Museu Nacional do Azulejo: 5 séculos de história

Retrato de Fernando Pessoa em azulejo. Lisboa
Fernando Pessoa, no traço de Julio Pomar, no Museu do Azulejo, em Lisboa. Foto: Michele da Costa

Eu gostei muito de conhecer o Museu Nacional do Azulejo, em Lisboa, Portugal! Isso porque percorrer cinco séculos de história, contada por meio de azulejos, foi especial. Pois, além de saber como o azulejo se tornou um dos maiores símbolos da cultura portuguesa, as obras nos permitem conhecer muito da história do País.

O acervo inclui desde os primeiros exemplares provenientes de Valência (Espanha), no final do século XV, até obras de artistas portugueses contemporâneos. Mas entre as peças que achei mais interessantes estão um retrato de Fernando Pessoa, no traço simples de Julio Pomar, e um grande painel que mostra Lisboa a partir da Baixa Pombalina, assinado por Jorge Barradas em 1954.

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Quanto custa visitar o Museu do Azulejo e a Igreja Madre de Deus Lisboa?

Igreja vista da janela do Museu do Azulejo
Lateral exterior da Igreja vista de janelinha do Museu. Foto: Michele da Costa

ONDE: Rua da Madre de Deus, número 4, 1900-312, Lisboa, Portugal. * Meu post com dicas sobre transporte em Lisboa pode te ajudar a se locomover na cidade.

QUANDO: De terça-feira a domingo, das 10h às 18h (última entrada às 17h30).

QUANTO CUSTA: 5 € (Cinco Euros); +65 anos pagam meia (2,50 €).

MAIS INFORMAÇÕES: No site do Museu Nacional do Azulejo.

Mais posts sobre outros templos maravilhosos:

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  • Com informações da Assessoria do Museu Nacional do Azulejo e do Patrimônio de Portugal, disponíveis em 26/03/2019.