Visitar o Museu Afro Brasil, na cidade de São Paulo, é uma ótima oportunidade para conhecer sobre a cultura e as diversas contribuições dos povos de origem africana na construção do Brasil. Como a maioria da nossa população é descendente desses povos, também significa conhecer parte fundamental da nossa própria história.
Então, caminhar pelos espaços do Museu é como uma imersão ao conhecimento e o despertar de uma sensação de pertencimento. Assim, a visita pode nos ajudar, enquanto sociedade, a recuperar e valorizar nossa identidade afro-brasileira, para além da história e cultura eurocêntricas que nos foram impostas como únicas por séculos.
Entre as mais de 6 mil obras do acervo permanente do Museu estão pinturas, esculturas, gravuras, fotografias, documentos e peças etnológicas. As peças datam desde o século XVIII até os dias de hoje, de autores brasileiros e estrangeiros.
Visitar o Museu Afro Brasil nos permite conhecer vários aspectos da cultura africana e afro-brasileira, como religião, trabalho, arte e escravidão. Dessa forma, compreender como tudo isso está diretamente relacionado à sociedade que conhecemos hoje.
A riqueza cultural da religiosidade afro-brasileira
Minha visita ao Museu Afro Brasil não poderia ter sido em melhor data: 20 de Novembro, dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, feriado na capital paulista. Por isso, a programação era especial, a exemplo da bela apresentação do grupo Baque Atitude, sobre orixás do Candomblé, do lado de fora do Museu.
Vestidos com roupas e acessórios alusivos a divindades como Iemanjá, Iansã, Exu, Oxossi, Xangô e Oxalá, eles dançaram e cantaram ao som de tambores e palmas. No site do Museu é possível baixar roteiros de visitas temáticas, entre as quais está a de Arte e Religiosidade Afro-brasileira.
Então, visitar o Museu Afro Brasil também é uma ótima oportunidade para conhecer um pouco sobre a riqueza cultural presente em manifestações religiosas afro-brasileiras.
Infelizmente, as religiões de matriz africana ainda são alvos de violência frequente. Por isso, conhecer e compreender é parte fundamental para o respeito a esta e a todas as religiões, assim como a quem não tem nenhuma.
Sabedoria e força afro forjaram o Brasil
Instrumentos criados por africanos eram utilizados na mineração Ofício de sapateiro era comum entre afro-brasileiros Roda de moinho em tamanho natural no Museu Afro Brasil
Que a cultura africana está presente em nossa música e religiosidade, todo mundo sabe, mas tem muito mais. Várias técnicas empregadas na produção da cana-de-açúcar e do café, na mineração e na construção de prédios históricos no Brasil foram trazidas pelos africanos.
Mas eles também eram muito bons como ferreiros e sapateiros, entre outras funções. Assim, vários instrumentos de trabalho construídos e utilizados pelos africanos e afro-brasileiros, durante o período da Colônia e do Império, podem ser observados na visita ao Museu Afro Brasil.
Apesar de terem sido trazidos à força, em péssimas condições nos “navios negreiros”, escravizados e castigados, os africanos e seus descendentes empregaram sua sabedoria na construção do Brasil. E assim foi, até que a escravidão foi abolida de vez pela Lei Áurea, em 1888.
Descobrindo brasileiros ilustres no Museu Afro Brasil
Durante a visita ao Museu Afro Brasil, encontramos desde objetos antigos de povos africanos, como máscaras usadas em rituais, até contribuições de artistas mais contemporâneos e populares, como Heitor dos Prazeres, Ruth de Souza e Milton Nascimento.
Mas, uma das coisas mais interessantes é constatar que vários ilustres da nossa arte e história eram negros ou mestiços. Entre eles, o maestro Carlos Gomes, o escritor Machado de Assis e o poeta Gonçalves Dias.
Carlos Gomes (1836-1896) nasceu em Campinas, interior de São Paulo, e foi reconhecido mundialmente. A cidade, onde reinavam absolutos grandes barões do café, figura entre as últimas do país a libertar os negros escravizados.
Publicação no site da Rádio EBC menciona que “Carlos Gomes parece mais claro em vários registros”. “Segundo dizem, o próprio usava um bigode para disfarçar os lábios grossos e não ser caracterizado com um mulato (termo muito comum nesta época, para designar os descendentes de brancos e negros).”
Mas esse desconhecimento ainda hoje deve-se ao fato de que muitas biografias omitem essa informação sobre a ascendência africana. E isso está relacionado ao preconceito e discriminação racial, que ainda é muito presente em nossa sociedade, infelizmente.
Assim, esse processo de valorização da cultura afro-brasileira também é fundamental como instrumento de combate ao racismo e todos os problemas sociais relacionados.
História do Museu Afro Brasil

Então, a inauguração do Museu Afro Brasil aconteceu em 2004, a partir da coleção particular do diretor curador Emanoel Araujo. Ele já tinha tentado criar uma instituição para o estudo das contribuições africanas à cultura nacional. Até que obteve apoio da então prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, à sua proposta museológica.
Foi quando teve início o projeto de implementação do Museu, com recursos da Petrobras e do Ministério da Cultura por meio da Lei Rouanet. No entanto, desde 2009, o Museu Afro Brasil é uma instituição pública, vinculada à Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo e administrado pela Associação Museu Afro Brasil.
O acervo do Museu é composto por mais de 6 mil obras, mas somente uma parte é exibida na exposição de longa duração. Mas, frequentemente realiza exposições temporárias e eventos culturais no seu Teatro Ruth de Souza.
Os visitantes do Museu Afro Brasil também têm acesso a aproximadamente dez mil obras literárias na Biblioteca Carolina de Jesus. Além disso, vinte obras raras da Biblioteca estão disponíveis no site do Museu.
Acervo digital do Museu Afro Brasil
Contudo, é bom saber, especialmente nesses tempos de distanciamento social, que o Museu Afro Brasil dá acesso a várias de suas obras e documentos por meio do Acervo Digital. Assim, basta inserir alguns dados nos campos indicados para abrir uma lista e escolher quais arquivos quer ver.
Dessa forma, entre outras obras de arte disponíveis online estão algumas dos seguintes artistas: Antônio Rafael Pinto Bandeira (1863-1896), Antônio Firmino Monteiro (1855-1888), Estevão Roberto Silva (1845-1891) e Arthur Timótheo da Costa (1882-1922).
Você também pode visitar outros grandes museus brasileiros sem sair de casa.
Como e quando visitar o Museu Afro Brasil

ONDE: O Museu Afro Brasil fica dentro do Parque Ibirapuera, à Avenida Pedro Álvares Cabral, sem número, na Vila Mariana, cidade de São Paulo (SP). Se for de carro, entre pelo Portão 3, onde fica o estacionamento que funciona com Zona Azul. Se estiver a pé, entre pelo Portão 10, que fica em frente à Assembleia Legislativa.
QUANDO: Funciona de terça-feira a domingo, das 11h às 17h.
QUANTO CUSTA: As entradas custam R$15,00 (inteira) e R$7,50 (meia), mas há uma série de gratuidades, consulte! Devido à pandemia, a venda de ingressos está disponível online, por meio do site do Museu.
MAIS INFORMAÇÕES: (11) 3320-8900.
Referências:
Texto redigido e fotos da jornalista Michele da Costa (direitos reservados), com informações do Museu Afro Brasil, disponíveis no site oficial. Ela visitou o Museu em 20 de Novembro de 2018.