Da histórica Praça da Liberdade até as curvas de Niemeyer na Lagoa da Pampulha, saiba o que fazer em Belo Horizonte. Roteiro turístico de um dia na capital das Minas Gerais.

Minha visita à cidade de Belo Horizonte começa na Praça da Liberdade, em um sábado ensolarado. Assim, o contraste do céu azul com o verde da praça e a arquitetura dos casarões históricos ao redor compõem um visual encantador!

Embora destoante de quase todo o resto, as curvas do Edifício Niemeyer também têm seu charme. O nome do arquiteto famoso não é coincidência, pois foi Oscar Niemeyer quem projetou o prédio, em 1954. Isso aconteceu dez anos depois que ele criou as obras da Pampulha.

Praça da Liberdade concentra história e cultura em Belo Horizonte

Espelho d'água na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte
Praça da Liberdade é eixo central do Circuito Liberdade

Então, como minha visita foi no começo de Agosto, ainda tive o privilégio de ver a Praça com seus Ipês Rosa floridos, um espetáculo! A história da Praça da Liberdade começa entre 1895 e 1897, na época da fundação de Belo Horizonte.

A cidade foi toda planejada para ser a nova capital do estado das Minas Gerais, que até então era Ouro Preto. Assim, ao redor da Praça também estão alguns dos principais prédios históricos da cidade, que abrigaram as sedes do Governo do Estado (Palácio da Liberdade) e de algumas Secretarias.

Por isso mesmo a Praça foi palco de importantes acontecimentos históricos e transformações sócio-culturais da cidade e do estado. Mas atualmente esses prédios públicos sediam museus e espaços culturais, como o Centro Cultural Banco do Brasil, o Memorial Minas Gerais Vale e o Museu das Minas e do Metal Gerdau. 

Essa mudança começou em 2010, com a transferência da estrutura administrativa do governo estadual para a nova sede (na região norte da cidade). Então, a Praça passou a ser o eixo central do “Circuito Cultural Praça da Liberdade”, hoje denominado “Circuito Liberdade”. A área reúne nada menos que quinze instituições, geridas pelo Estado e entidades parceiras.

Traçado à francesa ainda prevalece

Coreto e Edifício Niemeyer em Belo Horizonte
Coreto e Edifício Niemeyer, na Praça da Liberdade

José de Magalhães, arquiteto pernambucano, foi quem projetou a Praça da Liberdade, em Belo Horizonte, com seus 35 mil m2 e paisagismo de Paul Villon. O traçado original foi inspirado nos jardins ingleses, mas acabou substituído pelo modelo francês, observado até hoje.

Assim, o que mais me chamou atenção na Praça foram o charmoso coreto com estrutura metálica e o grande espelho d’água. Além disso, a imponência da alameda com palmeiras imperiais, que corta toda a Praça até o portão de entrada do Palácio da Liberdade.

Prédio do Centro Cultural Banco do Brasil em BH: lindo e acolhedor

  • Escada, lustres e vitrais em prédio histórico de Belo Horizonte.
  • Pátio interno de centro cultural em Belo Horizonte
  • Fachada do prédio da antiga Secretaria de Interior e Justiça do estado de Minas

O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), na Praça da Liberdade, foi o primeiro prédio em que entrei durante minha visita a Belo Horizonte. O espaço oferece atividades culturais, como exposições de arte, apresentações de teatro, cinema e música.

No andar de cima, a gente pode conhecer um pouco da história do prédio, inaugurado em 1930 como sede da Secretaria Estadual de Interior e Justiça. Mas o que mais me chamou atenção foi mesmo a beleza das suas formas, em estilo eclético com influências neoclássicas e art déco. 

A luz do Sol transpassa janelas e vitrais, compondo visuais belíssimos. No pátio interno, um ambiente amplo e ao mesmo tempo acolhedor, onde acontecem os maiores eventos.

O autor do projeto que deu forma e encanto aos 8 mil m2 é o arquiteto Luiz Signorelli. O CCBB ocupa o prédio desde 2013 e está entre os maiores centros culturais do país.

O Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte é o número 450 da Praça da Liberdade. Funciona de quarta a segunda, das 10h às 22h. A entrada é gratuita, mas para alguns eventos é cobrado ingresso. Para obter mais informações, telefone para (31) 3431-9400 ou envie mensagem para o e-mail ccbbbh@bb.com.br.

Memorial Minas Gerais Vale em Belo Horizonte explica origens da cultura mineira

  • Exterior do Memorial Minas Gerais Vale
  • Decoração no interior do Memorial Minas Gerais Vale
  • Interior do Memorial Minas Gerais Vale, em Belo Horizonte
  • Apresentação sobre origens do povo mineiro em museu de Belo Horizonte

Então, minha segunda parada foi no Memorial Minas Gerais Vale, do lado oposto ao CCBB, na Praça da Liberdade. O museu ocupa o prédio da antiga Secretaria da Fazenda do Estado, construído em 1897. O local também é onde foi lançada a pedra fundamental da cidade de Belo Horizonte.

São três andares com 31 salas repletas de conteúdo histórico e artístico, que nos levam a uma verdadeira imersão na bela cultura mineira. Mas o visitante é quem faz seu roteiro e a interação está presente em toda a parte. 

Por isso é considerado um museu de experiências, cujo objetivo é nos fazer sentir como personagens daquela história ou obra. Para tanto, utiliza recursos tecnológicos e ambientação de época.

Interatividade e tecnologia

Um dos melhores exemplos é a sala “Panteão da Política Mineira”, onde se passam diálogos entre os principais personagens da Inconfidência Mineira. Atores dão vida aos personagens, dispostos em quadros (monitores) nas paredes.

Acomodados em confortáveis poltronas giratórias, os visitantes assistem a tudo do centro da sala. É como se a gente estivesse lá, participando dos eventos da conspiração que terminou com a morte de Tiradentes, em 21 de abril de 1792.

Outra sala que me despertou especial interesse foi a chamada “O povo mineiro”. Nela, personagens de um índio, um europeu e um africano falam sobre suas tradições, como se misturaram e compuseram a deliciosa e única cultura mineira.

A arte de Minas para o mundo

Sala Guimarães Rosa, no Memorial Minas Gerais Vale, em Belo Horizonte
Os Sertões, de Guimarães Rosa, representado no Ipê Rosa florido em sala do Memorial Minas Gerais Vale

Mas como não se emocionar com espaços do 1º piso, onde mais do que ver podemos sentir a arte de grandes mineiros que ganharam o mundo? Entre eles estão Carlos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa, Sebastião Salgado e Lygia Clark.

O projeto de curadoria e museografia do Memorial Minas Gerais Vale é de Gringo Cardia. O acesso ao público é totalmente gratuito. Fica no número 640 da Praça da Liberdade, esquina com a Rua Gonçalves Dias.

Dias e horários de funcionamento não estavam disponíveis no site do Museu, na data desta publicação. Para mais informações ligue (31) 3308-4000.

Palácio da Liberdade e mais do Circuito Liberdade em Belo Horizonte

  • Museu das Minas e do Metal Gerdau, em Belo Horizonte
  • Palácio da Liberdade em Belo Horizonte

Entre os locais que pretendo visitar na próxima viagem a Belo Horizonte, o Palácio da Liberdade é o primeiro da lista. Infelizmente, não consegui entrar dessa vez, mas fiquei encantada ao saber de sua beleza e importância histórica.

O projeto arquitetônico de José de Magalhães demonstra a influência do estilo francês. No interior, a decoração, móveis e objetos levam os visitantes aos tempos da 1ª República. O Palácio foi inaugurado em 1898 como sede do Governo de Minas e residência oficial do governador. 

As visitas ao Palácio da Liberdade acontecem aos sábados e domingos, das 10h às 16h. A entrada é gratuita, mas para garantir o acesso é aconselhável fazer a inscrição antecipada. Mais informações pelo telefone (31) 3224-1919.

Entre outros espaços culturais do Circuito Liberdade estão o MM Gerdau Museu das Minas e do Metal, no antigo prédio da Secretaria de Educação do Estado, a Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais (prédio também projetado por Niemeyer), e o Museu Mineiro.

Mercado Central para lazer e compras 

Entrada do Mercado Central de Belo Horizonte
Mercado Central de Belo Horizonte guarda delícias e história

Em Belo Horizonte, o Mercado Central é o local ideal para comprar alguns quitutes da culinária mineira, como queijos e doces. Tem um corredor só com bancas de artesanato. Mas também é ponto de encontro para o tira-gosto e a cerveja gelada do fim de semana.

Por isso, aconselho a fazer essa visita em dia de semana, pois aos sábados e domingos costuma ficar cheio. Tal estava no dia da minha visita, que mal consegui andar lá dentro, quanto mais almoçar como tinha planejado. Uma pena, pois o cheiro estava ótimo!

O Mercado Central de Belo Horizonte tem mais de quatrocentas lojas e recebe aproximadamente 15 mil pessoas por dia. Dá até para fazer uma visita guiada, mas é necessário agendar.

Fica na Avenida Augusto de Lima, 744, sede desde 1929. Aberto de segunda a sábado, das 8h às 18h; e aos domingos e feriados das 8h às 13h. Mais informações pelo telefone (31) 3274-9434 ou 3274-9497.

Obras de Niemeyer na Pampulha

Passagens de São Francisco de Assis em obra de Portinari na Pampulha
Igreja da Pampulha, em Belo Horizonte, com obra de Portinari em azulejos

Depois do Mercado e da pausa para um lanche, parti para a Lagoa da Pampulha. Além das belezas naturais, o local reúne obras consagradas de Niemeyer, chamadas de Conjunto Arquitetônico da Pampulha. 

Entre estas obras estão a Casa do Baile, a Igreja de São Francisco de Assis (da Pampulha), o Museu de Arte (antigo Cassino) e o Iate Clube. Destes, só não visitei o Iate Clube. O Conjunto é Patrimônio Mundial desde 2016.

Como de costume na arquitetura modernista de Niemeyer, as curvas estão presentes em tudo. Infelizmente, não pude entrar na igreja, pois estava fechada para obras, mas fiquei encantada com o que vi do lado de fora. 

Igreja da Pampulha é de São Francisco de Assis

Pesquisando depois, achei muito interessante que a Igreja da Pampulha teria sido a primeira edificação católica no Brasil a conter traços tão diferentes da tradição religiosa até então. Mais ainda em saber que a capital mineira inaugurou a arquitetura modernista brasileira, que viria a ser empregada na construção de Brasília, anos depois.

Isso porque o autor da obra (política) foi o mesmo, o então prefeito de Belo Horizonte e depois presidente do Brasil (1956-1961), Juscelino Kubitschek. Ele quem convidou Niemeyer, em 1942, para fazer o projeto de centro de lazer da Pampulha, e depois para projetar Brasília.  

O projeto da Igreja da Pampulha, construída em 1943, ainda contou com as participações de Cândido Portinari, Alfredo Ceschiatti, Burle Marx e Paulo Werneck. Portinari é autor do painel externo em azulejo, azul e branco, que retrata cenas da vida de São Francisco, entre outras obras da Igreja.

Como bem disse Fernando Sabino, no livro ‘Lugares-Comuns’: “(…) Tempo de Pampulha, do Niemeyer, da arquitetura moderna. Brasília nasceu ali”.

O acesso à Igreja da Pampulha é gratuito. Fica na Avenida Otacílio Negrão de Lima, 3000, Pampulha. Mais informações: (31) 3427-1644. Antes de ir, consulte os dias e horários de visitação. 

Casa do Baile abriga Centro de Referência de Arquitetura

Na ponte de acesso à Casa do Baile, na Pampulha
Casa do Baile foi construída em pequena ilha artificial na Lagoa da Pampulha. Foto: Gisele Prosdocimi

A Casa do Baile, outra obra do Conjunto, de 1943 também, foi construída para ser um centro de festas da classe média, mas acabou servindo à elite. Então, passou um tempo fechada, sediou eventos da família de JK, foi restaurante e até depósito da prefeitura!

Atualmente, a Casa do Baile abriga o Centro de Referência de Urbanismo, Arquitetura e Design, com exposições sobre o tema. A Casa é o único prédio do Conjunto construído dentro da lagoa, em uma pequena ilha artificial.

No local encontramos imagens e dados da região da Pampulha, então é um bom ponto de partida para a visita ao Conjunto. Adorei caminhar pelas linhas sinuosas da Casa e pelo jardim, criado pelo notório paisagista Burle Marx.

O acesso à Casa do Baile é gratuito. Fica na Av. Otacílio Negrão de Lima, 751, Pampulha. Funciona de quarta-feira a domingo, das 11h às 18h. Mais informações: (031) 3277-7443 ou cb.fmc@pbh.gov.br. 

Museu de Arte foi construído para ser cassino

  • Museu de Arte da Pampulha
  • Pôr do Sol na Lagoa da Pampulha

O prédio sede do Museu de Arte da Pampulha (MAP) desde 1957 é o principal local de divulgação de arte contemporânea do estado. Mas é curioso saber que foi criado para ser um cassino. E assim foi, de 1943 a 1946, quando os jogos “de azar” foram proibidos no Brasil. 

Em seu acervo estão 1,4 mil obras, entre as quais algumas de Cândido Portinari, Di Cavalcanti, Alberto da Veiga Guignard, Tomie Ohtake e Amilcar de Castro. Além disso, tem fotografias, gravuras, desenhos, documentos e audiovisual.

Mas a obra modernista também é conhecida como Palácio de Cristal, por causa dos espelhos que revestem a parede do prédio. É um local muito bonito, com algumas esculturas do lado de fora e os jardins, também criados por Burle Marx.

Tanto que foi logo ali, à beira da Lagoa, que assisti a um belo pôr do Sol na Pampulha, encerrando meu roteiro de um dia em Belo Horizonte.

O MAP fica na Avenida Otacílio Negrão de Lima, 16585, Pampulha. Mais informações: (31) 3277-7946 e map.fmc@pbh.gov.br. Segundo informa o site da Prefeitura, na data desta publicação, o Museu está fechado temporariamente, então consulte antes de ir.

Bares e restaurantes em Belo Horizonte

Mas, se for passar a noite na cidade, não deixe de explorar os bares e restaurantes. Aliás, um dos títulos ostentados por BH é o de “capital nacional dos bares”.

Por isso, a colega Gisele Prosdocimi, que mora na cidade, aponta os seus preferidos, em uma lista com oito bares de Belo Horizonte. Nosso agradecimento especial a ela, que nos acompanhou durante o passeio na Pampulha!

Referências: 

À beira da Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte, MG
Final de tarde na Lagoa da Pampulha, com Mineirão e Mineirinho ao fundo. Foto: Gisele Prosdocimi

Texto de autoria da jornalista Michele da Costa (na foto acima). Com informações da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, da Prefeitura de Belo Horizonte e do Circuito Liberdade, disponíveis nos sites oficiais em 31/01/2021. 

Devido a possíveis restrições de acesso impostas pela pandemia de Covid-19, sugerimos consultar os locais sobre o funcionamento antes de programar uma visita.

As fotos são da Michele da Costa/ Embarque40Mais, com exceção das creditadas na legenda. Todos os direitos reservados. A viagem de Michele a BH foi em Agosto de 2019.