O Bosque dos Jequitibás Campinas é conhecido hoje como um espaço público de lazer, no interior paulista. Mas também abriga dois grandes tesouros, sua preciosa história e um belo pedacinho da Mata Atlântica, bem no coração da cidade.

Entre os moradores da região, há quem veja o Bosque dos Jequitibás Campinas apenas como um local agradável para caminhar em meio a árvores centenárias. Tem aqueles que levam as crianças para ver os animais do zoológico, ao teatro, entre outras atrações.

Há quem não visite há anos, mas lembra com carinho dos passeios da infância. Também existem aquelas pessoas que têm todas essas e outras vivências do Bosque. Mas bem poucas sabem da sua relevância cultural e ambiental.

O Bosque recebe aproximadamente 1 milhão de visitantes ao ano. Embora muita gente ainda prefira a Lagoa do Taquaral (Parque Portugal), os patrimônios histórico e ambiental do Bosque o colocam em lugar de destaque. Com seus mais de 140 anos e 10 hectares, é um reduto de história, fauna e flora nativas.

Pois então, te convido a seguir comigo neste passeio para descobrir o Bosque dos Jequitibás Campinas!

Bosque dos Jequitibás Campinas: de recanto da elite cafeeira a parque popular

Portão de entrada do Bosque
Portão de entrada do Bosque dos Jequitibás, em Campinas-SP

Pois bem, a história do Bosque dos Jequitibás começa lá nos anos 1880, ainda nos tempos do Império. Assim, foi o primeiro parque urbano da cidade de Campinas, criada oficialmente em 1842. Inclusive, o local foi visitado pelo imperador Dom Pedro II, em 1886, como nos conta a historiadora Mirza Pellicciotta em texto sobre a história do Bosque.

“Impressionado com a beleza do local, (D. Pedro) sugere que este seja aberto ao público. O acesso era feito mediante pagamento de uma entrada ou por convite do proprietário…”, explica ela. Aliás, esta e outras informações históricas do Bosque dos Jequitibás mencionadas nesta publicação têm como principal referência este texto autoral de Mirza.

Então, o Bosque dos Jequitibás em Campinas começa como um parque particular, em área de mata nativa na chácara de Francisco Bueno de Miranda. A região era conhecida como Campo das Caneleiras. Ele contrata o arquiteto Ramos de Azevedo, recém-chegado da Europa, para fazer o projeto de “aformoseamento” do Bosque.

A ideia era que o local se tornasse um ponto de lazer da população, inspirado nos jardins europeus. Assim, entre 1880 e 1881 foram construídos um lago artificial (Lago da Prata), um botequim, um pavilhão e um chalé para restaurante e sanitários.

A construção do Chalé ficou sob a responsabilidade de Ferraz da Costa, Luiz Amirat e João Pereira. Pouco depois, o Chalé foi ampliado e foi construído um coreto de música, tudo projetado por Azevedo. Já o mini zoológico data de 1888, um dos mais antigos do país.

Caçadas no Bosque dos Jequitibás

Fonte no Bosque dos Jequitibás em Campinas, interior de SP.
Fonte foi construída no local onde ficava o coreto musical

Até mesmo caçadas chegaram a acontecer no Bosque dos Jequitibás Campinas. Registros indicam que essa atividade ocorreu em 1885, inspirada nos bosques de caça europeus. Assim, os caçadores convidados a participar podiam levar cães para ajudá-los a alcançar o alvo, que poderia ser uma anta, capivara ou paca.

Então, a caçada acontecia no final da tarde e podia ser acompanhada pelo público, ao custo de 500 Réis por pessoa. A historiadora Mirza Pellicciotta chama atenção para o caráter de espetáculo e contradições do evento em área urbana. Isso porque os caçadores eram provavelmente fazendeiros de café da região, que possuíam propriedades muito maiores, com fauna abundante.

Ela acredita que o que estava em jogo era a construção de um cenário, de uma natureza manipulada e domesticada pelo homem, idealizada em relação à cidade. Por isso, conclui que nesta época “convivem no espaço do Bosque tanto teorias estéticas como aspirações de moda, com imitações incoerentes, como as caçadas”.

Bosque dos Jequitibás se torna parque público em 1915

Parque infantil do Bosque, possivelmente da década de 1970.
Parque infantil do Bosque, possivelmente na década de 1970. Foto: Reprodução site IBGE

Então, 29 anos depois da sugestão de Dom Pedro II, o Bosque dos Jequitibás se torna um parque público. A aquisição, autorizada por Resolução Municipal de 4 de Maio, custa 100 mil Réis ao Município. Logo em seguida, sob a administração do prefeito Heitor Penteado, vários reparos e adequações são realizados no Bosque.

Entre eles estão a construção da escada de acesso ao Chalé, de ranchos para o comércio e o reforço das barragens do lago. Apesar de se consolidar como parque urbano no conceito de nova cidade do século XX, configurado por Anhaia Melo e Prestes Maia, o modelo rústico e pitoresco é mantido.

Mas, com o passar dos anos, algumas mudanças são observadas, como a utilização do antigo Chalé para abrigar os atuais aquário e serpentário e a construção de uma fonte no lugar do coreto. Entre outros acréscimos, destacam-se as construções do Teatro Carlos Maia e do Museu de História Natural (1938), que foi reaberto recentemente após uma reforma.

Tal a relevância histórica e ambiental do Bosque dos Jequitibás, que em 1970 foi tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo, e em 1993 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (CONDEPACC), com área envoltória de 300 metros.

Um pedacinho da Mata Atlântica no Bosque dos Jequitibás Campinas

Trilha na mata do Bosque
Trilha na mata do Bosque

Do total de 10 hectares (ha) da área total do Bosque dos Jequitibás, 2,41 ha são de remanescentes da Mata Atlântica, um dos biomas mais importantes e mais devastados do nosso país. Segundo dados da Fundação SOS Mata Atlântica, restam aproximadamente 12,4% da floresta que existia originalmente no Brasil.

Em Campinas, apenas 2,66% do território possui vegetação nativa e, segundo estudo de 2005, estava distribuída em pouco mais de 300 fragmentos. Só que a maioria desses fragmentos (84%) tem menos de 10 ha e alguns deles estão ilhados na área urbana, a exemplo do Bosque dos Jequitibás. Por isso, ali temos um pequeno tesouro, que precisa ser preservado!

Estudo aponta redução da mata nativa no Bosque dos Jequitibás

Mata nativa do Bosque foi reduzida, segundo estudo.
Trilhas em meio à mata nativa do Bosque

Só que, os resultados de um estudo, realizado entre 2003 e 2005, apontam uma redução da vegetação nativa no Bosque dos Jequitibás quando comparados a dados coletados 28 anos antes, entre 1976 e 1978. Os estudos foram publicados em 2018 (GOMES, J.A.M.A. et al.) na Revista do Instituto Florestal, e em 1988 (Matthes etc al.), respectivamente.

Então, o comparativo mostra que as 1.401 árvores vivas identificadas na avaliação mais recente, com densidade de 581,50 árvores por hectare, indicam uma queda de 24% em relação ao primeiro estudo, quando a densidade era de 766,06 árvores/ha. O número de árvores mortas aumentou no mesmo período comparativo, passando de 39 para 138.

Do total de árvores do Bosque dos Jequitibás, as espécies nativas pioneiras passaram de 278 para 197 e as nativas não pioneiras de 1.486 para 1.165 árvores. Ao mesmo tempo, as espécies exóticas ganharam espaço no Bosque, passando de 10 para 39 árvores. As espécies exóticas são plantas não naturais da flora local, normalmente introduzidas para fins paisagísticos.

Estas perdas de árvores nativas, segundo o estudo, ocorrem devido à fragmentação e isolamento em ilha urbana. Mas, para evitar o agravamento do problema, os cientistas indicaram a eliminação das espécies exóticas da área interna e a arborização urbana no entorno do Bosque com espécies nativas, entre outras medidas.

Os Jequitibás no Bosque dos Jequitibás

Jequitibá Rosa no Bosque em Campinas
Jequitibá Rosa no Bosque. Foto: Luiz Granzotto/ Prefeitura de Campinas

Os Jequitibás, que dão nome ao Bosque mais antigo da cidade e se tornaram símbolo de Campinas, são as maiores espécies de árvores nativas da Mata Atlântica. Jequitibá é um nome derivado do tupi-guarani, que significa “gigante da floresta”. Isso porque pode chegar a medir 50 metros de altura e viver até 500 anos.

As espécies mais conhecidas no Brasil são o Jequitibá Rosa e o Jequitibá Branco. Além do Bosque, em Campinas a árvore também deu nome à atual sede da Prefeitura, inaugurada em 1970, o Palácio dos Jequitibás.

Isso porque foi lá, em frente à Prefeitura, que viveu um dos exemplares mais famosos de Jequitibá Rosa, o Seo Rosa. Ele tinha aproximadamente 180 anos, 42 metros de altura e 5 metros de diâmetro quando caiu, em 16 de Janeiro de 1999. No local, ainda vive o Seo Rosinha.

Mas, infelizmente, o Jequitibá Rosa é uma das espécies ameaçadas de extinção, devido à exploração madeireira e destruição do seu habitat. Por isso, as estimativas são de que nos últimos 300 anos esta espécie tenha sido reduzida à metade.

O estudo comparativo da flora do Bosque dos Jequitibás em Campinas (GOMES, J.A.M.A. et al., 2018) apontou aumento no número de Jequitibás Rosa e redução de Jequitibás Branco. No estudo, realizado entre 2003 e 2005, haviam no Bosque 13 Jequitibás Rosa (6 a mais do que na análise anterior) e 8 Jequitibás Branco (9 a menos).

Em Campinas, você também pode gostar de visitar a Mata de Santa Genebra, considerada a maior floresta urbana da Região Metropolitana de Campinas.

O que fazer no Bosque dos Jequitibás Campinas

  • Bosque dos Jequitibás Campinas tem espaços para piqueniques
  • Bosque dos Jequitibás Campinas é excelente para caminhadas.
  • Chalé em estilo europeu no Bosque de Campinas-SP.
  • Descanso após caminhada

Além de ver de perto todo o patrimônio histórico e caminhar entre árvores centenárias, os visitantes do Bosque dos Jequitibás, em Campinas, podem usufruir de equipamentos de cultura e lazer. Mini Zoológico, Aquário, Serpentário (Casa dos Animais Interessantes), Museu de História Natural e Teatro Infantil Carlos Maia estão entre as principais atrações. Também há locais muito agradáveis, em meio a árvores, destinados a piquenique, com mesas, bancos e pias.

Contudo, o mini zoo é uma das atrações mais procuradas pelos visitantes, que podem ver de perto alguns animais da fauna brasileira, entre outros. Entre os animais do Bosque estão anta, hipopótamo, leoa, macaco, répteis e diversas espécies de aves como araras, corujas, emas e tucanos. Mas há também alguns animais que vivem em liberdade no Bosque, como saguis, cotias, bichos-preguiça, pavões e teiús.

O mini zoo do Bosque dos Jequitibás também é um abrigo para espécies ameaçadas de extinção. Contribui com a reabilitação de animais resgatados para a reintrodução em seus habitats naturais. Foi criado em 1888 e reconhecido pelo IBAMA em 1995. O acesso ao mini zoo é gratuito.

Mudança deve por fim a Mini Zoo do Bosque

  • Ilhota para macacos em lago do Bosque
  • Pavões vivem em liberdade no Bosque dos Jequitibás Campinas
  • Placa na entrada do Bosque publiciza animais silvestres em exposição

No entanto, o mini zoo deve acabar em alguns anos. A partir de demanda de entidades protetoras dos direitos dos animais, a Prefeitura elaborou uma proposta para proibir na cidade a manutenção e exposição pública de animais silvestres em cativeiro.

Tal mudança também poria fim ao aquário e ao serpentário. Porém, isso aconteceria a médio prazo, já que conforme a proposta os animais saudáveis do zoo continuariam em exposição enquanto vivessem. O fim do zoo se daria com a não reposição dos animais.

Mas o trabalho de cuidados com animais resgatados seria mantido, com a criação de um Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS), a funcionar em outro local. Para que seja colocada em prática, a proposta depende de aprovação da Câmara Municipal, onde está desde Outubro de 2019.

Bosque abriga Museu de História Natural

Caixas de vidro com animais empalhados em Museu no Bosque.
Interior do Museu de História Natural, revitalizado. Foto: Divulgação/ Prefeitura de Campinas

Assim, o Museu de História Natural, que fica dentro do Bosque dos Jequitibás, tende a ganhar mais importância. Depois de mais de um ano fechado, passou por reforma e revitalização, e reabriu ao público em Janeiro de 2021. As mudanças vão desde a manutenção da estrutura do prédio até o conceito pedagógico.

Então, entre as novidades estão uma sala com arquibancada, mobiliário novo com gavetões e vitrines mais baixas, para melhor acesso e visibilidade do público infantil, e uma iluminação mais potente. O acervo do Museu tem aproximadamente 6 mil peças, a exemplo de fósseis dos biomas brasileiros (Amazônia, Mata Atlântica, Pantanal, Cerrado, Caatinga e Pampa) e de espécies em extinção.

O Museu de História Natural de Campinas foi criado em 1938 e recebe aproximadamente cem mil visitantes ao ano. Funciona de quarta a sexta-feira, das 9h às 13h, mas antes de ir consulte sobre possíveis restrições devido à pandemia de Covid-19. Atualmente, os ingressos custam R$ 5,00 e R$ 2,50 (meia). Contato: (19) 3295-5850.

Como e quando visitar o Bosque dos Jequitibás Campinas

Bancos com propaganda comercial no Bosque dos Jequitibás Campinas
Bancos com propaganda comercial da época em que telefones tinham 4 dígitos

ONDE: Rua Coronel Quirino, número 02, bairro Bosque, região central de Campinas (SP).

QUANDO: De terça-feira a domingo, das 7h às 18h. Antes de ir, consulte sobre possíveis restrições devido à pandemia de Covid-19.

QUANTO CUSTA: Entrada gratuita ao Bosque. Para acesso a alguns atrativos, como aquário, museu e teatro, há cobrança de ingresso.

MAIS INFORMAÇÕES: (19) 3231-8795.

Referências:

  • Texto e fotos de autoria da jornalista Michele da Costa (direitos reservados), com exceção das fotos creditadas na legenda.
  • Com informações da historiadora Mirza Pellicciotta, do Departamento de Turismo da Prefeitura de Campinas, da Revista do Instituto Florestal (edição de Junho de 2018), dados disponíveis nos sites oficiais da Prefeitura de Campinas e do Parque Estadual Serra do Mar.
  • INPE: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.