O dia 25 de Abril marca o fim da ditadura em Portugal, que durou quase 48 anos (de 28 de Maio de 1926 a 25 de Abril de 1974), uma das mais longas da Europa. Mas em 2022 a data é ainda mais especial para os portugueses. Isso porque é a primeira vez na história do País que celebram o 25 de Abril vivendo há mais tempo sob um regime democrático do que sob um regime ditatorial.
O marco é 23 de Março de 2022, quando completaram-se 17.500 dias desde o 25 de Abril de 1974. Até então tinham sido 17.499 dias “em que a ditadura parecia eterna e a liberdade um mero sonho, um sonho sempre adiado, mas nunca abandonado”, explica o Primeiro-Ministro de Portugal, António Costa.
Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril
Costa falou sobre isso durante a abertura das Comemorações Oficiais dos 50 anos do 25 de Abril, que se estendem até 2026. O fim da ditadura em Portugal completará 50 anos em 2024, mas as primeiras eleições democráticas diretas com voto popular ocorreram entre Abril e Dezembro de 1976. No 25 de Abril de 2024 a comemoração será dupla: 50 anos do 25 de Abril e 50 anos de Democracia.
Por isso, muitas iniciativas e eventos públicos devem ocorrer em várias cidades do País. Neste ano, por enquanto, há eventos programados até Agosto, com atividades que incluem exposições e um musical. O objetivo é reforçar a memória, especialmente dos mais jovens que não viveram a ditadura, e demonstrar a relevância atual do 25 de Abril na construção da Democracia. Mas afinal, o que provocou o 25 de Abril?
Como aconteceu o 25 de Abril de 1974 em Portugal
Então, para entender o 25 de Abril vamos voltar à época da ditadura em Portugal, composta por dois períodos distintos. O primeiro, de 1926 a 1933, a partir de um golpe militar que derrubou o regime democrático parlamentarista em meio a dificuldades econômicas.
O segundo, de 1933 a 1974, sob o comando predominante de António de Oliveira Salazar, seguido de Marcelo Caetano. Nesse período, o regime político era o Estado Novo, que também ficou conhecido como ditadura salazarista.
Esse regime teve várias semelhanças, assim como algumas diferenças, em relação ao fascismo de Mussolini na Itália e ao nazismo de Hitler na Alemanha. Salazar foi um chefe de Estado rígido, porém com características paternais e sem a pompa militar dos vizinhos europeus.
Ao contrário do nazismo (Hitler era pagão), o regime português obteve apoio da Igreja Católica em troca de privilégios. Ao mesmo tempo, declarava ser contrário ao liberalismo político (manteve o poder legislativo e o movimento sindical sob sua tutela) e adotou discurso e práticas anticomunistas.
“Em defesa da moral e dos bons costumes”
Defensor de um projeto nacionalista e colonial, o regime ditatorial também instalou uma polícia política, que agia com repressão e não se responsabilizava por crimes de massas. Instaurou censura prévia aos veículos de comunicação e a publicações estrangeiras, “em defesa da moral e dos bons costumes”.
O país fechou sua economia ao exterior e ficou a cargo de cartéis, constituídos à sombra do Governo e com grandes privilégios. Durante mais de quatro décadas, o regime sofreu vários abalos, mas acabou sendo derrubado por uma conspiração militar dirigida por um movimento das Forças Armadas. Só que as Forças Armadas eram um dos pilares do Estado Novo, então o que teria colocado militares contra o governo?
Quem derrubou a ditadura salazarista

Foi um grupo de jovens capitães e oficiais subalternos das Forças Armadas que colocou em prática o golpe de Estado. Em menos de 24 horas eles derrubaram a ditadura em Portugal e deram início a uma revolução, que ficou conhecida como Revolução dos Cravos.
Então, tudo indica que o descontentamento militar com o regime teria sido provocado pelas guerras mal sucedidas contra movimentos independentistas nas colônias de Angola, Guiné e Moçambique, entre as décadas de 1960 e 1970.
Enquanto o governo teimava em manter as guerras nas colônias, a radicalização das oposições e a contestação social ao Estado Novo cresciam. A gota d’água teria sido uma nova legislação que pretendia suprir a falta de oficiais na frente de combate na África.
Assim, em Setembro de 1973, o Movimento dos Capitães nas Forças Armadas foi constituído. O Movimento ganhou força rapidamente, culminando com o golpe fatal em 25 de Abril de 1974. Em outra publicação sobre o Lisbon Story Centre, museu interativo em Lisboa, é possível ver mais sobre a estratégia militar do Movimento e outros fatos relacionados.
Ponte 25 de Abril é símbolo da Revolução dos Cravos

A Ponte 25 de Abril é um dos grandes marcos da transição entre a ditadura e a Democracia em Portugal. É que a construção, inaugurada em 1966, tinha o nome de Ponte Salazar. Por isso, um dos primeiros atos da revolução foi derrubar as letras na ponte que formavam o nome do ditador.
Com extensão de mais de 1 km sobre o Rio Tejo, a ponte rodoviária liga Lisboa a Almada. Do Cristo Rei, em Almada, tem-se uma das mais belas vistas da Ponte 25 de Abril e de Lisboa (foto destacada). Saiba mais sobre o monumento que foi inspirado no Cristo Redentor brasileiro, como e quando visitar!
O período entre a revolução de 1974 e Constituição da República Portuguesa com eleições diretas, em 1976, foi marcado por governos provisórios e muita turbulência política. Mas nesse período também foram restauradas as liberdades fundamentais e teve início a descolonização na África.
Referências:
Reportagem, edição e fotografia da jornalista Michele da Costa (direitos reservados), com informações públicas, disponíveis no dia 23/04/2022 em: Site oficial da Presidência de Portugal; Site oficial da Comemoração dos 50 anos do 25 de Abril; Infopédia, da Porto Editora – Ditadura Militar, Estado Novo e Ponte 25 de Abril.