Olá pessoal!!! Espero que tenham sentido saudades das minhas histórias. Agora, trago mais sobre a viagem que fiz ao Recôncavo Baiano (interior da Bahia), em janeiro deste ano, que pelo que tenho escrito mais parece uma saga (rs). Mas vocês vão entender.

São tantos os detalhes, paisagens, vivências que não dá para descrever em poucas palavras. Para quem não conseguiu acompanhar as outras postagens sobre essa viagem, os links estão no final do texto.

Então, aqui vamos nós de novo! Retomando, no dia 8 de janeiro, me despedi da comunidade quilombola e segui pela BR 420 rumo à Cachoeira, pois ainda queria conhecer melhor o lugar. Janeiro, como sabem, é Verão no Brasil e a temperatura no interior é mais alta ainda. Apesar de ter saído cedo, o calor estava forte.

Visitando fábricas de charuto

mãos preparam charuto sobre mesa
Mãos femininas confeccionam charutos artesanais

Chegando lá, procurei logo a fábrica de charutos que queria conhecer. Aliás, esse era um dos meus objetivos há anos, mais precisamente depois de ter visitado uma em Pinar del Rio (Cuba), nos idos de 1999, onde fiz muitas fotos. Fui muito bem recebida pelos funcionários da Talvis/Leite&Alves, que funciona desde 1936.

Foi lindo ver todo o processo de fabricação de charuto 100% artesanal. Não satisfeita em ver uma fábrica, atravessei a ponte que liga Cachoeira e São Félix para conhecer outra mais antiga: a Dannemann, inaugurada em 1892.

O que chama a atenção nos dois lugares é que a maioria dos artesãos que enrolam as folhas de tabaco é de mulheres. Algumas já trabalham lá há mais de vinte anos! São oito horas atrás de uma mesa, em um ambiente quente, já que não se pode usar ar-condicionado para não “matar” a folha.

Vista a partir de carro sobre ponte
Ponte entre Cachoeira e São Felix, Bahia

Um parêntese aqui: Como parei de fumar há cerca de seis anos nem cogitei provar, mas é engraçado, pois todo o processo em torno da fabricação do charuto me agrada e me causa admiração por todas as especificidades que envolvem. Acho um trabalho muito bonito e preciso.

Ainda em São Félix fiz um passeio curto, margeando as águas do Rio Paraguaçu. Fiquei imaginando os navios e barcos séculos atrás sendo carregados com a produção local que seria levada para a capital baiana.

Casarões históricos em ruínas no interior da Bahia

Fachada de casarão em ruínas
Ruínas: Patrimônio arquitetônico em Cachoeira (Bahia)

Retornei para Cachoeira e almocei a melhor moqueca que já comi em um dos restaurantes da Praça da Aclamação. Aproveitei para fotografar as fachadas de alguns casarões, que chegaram a me dar a impressão de que cairiam em cima de mim caso eu ficasse mais um minuto por ali.

Cachoeira é tida como uma das cidades baianas que mais preservaram sua identidade cultural e histórica, o que faz dela um dos principais roteiros turísticos históricos do estado, mas as fachadas dos casarões coloniais estão em ruínas. Então, pensei em como devem estar os municípios que não estão nesta categoria.

Fachada de prédio em ruínas
Ruínas: Parte inferior do casarão em Cachoeira (Bahia)

Para se ter uma ideia de como repercute essa questão do patrimônio histórico, encontrei alguns europeus e latino-americanos por lá, o que demonstra interesse das pessoas em conhecer nosso passado. Depois, parti para um novo destino: São Francisco do Conde.

Na Baía de Todos os Santos

margem de rio e barcos de pesca
Barcos de pesca nos fundos da Baía de Todos os Santos

São Francisco do Conde é um município com 36 mil habitantes, que fica às margens da Baía de Todos os Santos, fundado em 1698 a partir da construção de um convento e uma igreja no alto do morro. A entrada da cidade me impressionou pelas ruas bem cuidadas e com luminárias no centro formando um corredor.

Logo mais à frente, vi a Universidade de Integração Internacional da Lusofania Afro-Brasileira (Unilab), inaugurada em 2013. Até ali achei bonita a cidade, mas depois que olhei de frente para ela e vi um monte de casas inacabadas ou sem reboco, fiquei decepcionada.

Aí fui atrás de uma pousada para passar a noite. Encontrei duas: a primeira não tinha a mínima condição de hospedagem, então fui para a “Recanto do Parque”, para os padrões locais, era a melhor. Deixei as malas lá e fui dar uma volta.

Um calçadão margeando as águas dos fundos da Baía de Todos os Santos, com um jardim no entorno, permite que a população caminhe à tardezinha. Aproveitei para debruçar na mureta e apreciar as luzes do entardecer que refletiam nas águas, criando um clima de paz e tranquilidade.

Era a hora em que os pescadores estavam voltando com o resultado do dia de trabalho. Eles chegavam e “jogavam” seus barcos na areia.

O Casarão da novela “Velho Chico”

casarão antigo e palmeiras, avistados de um barco sob rio
Casarão histórico em São Francisco Félix, interior da Bahia

Do outro lado da margem, vi uma ilha e um casarão e fiquei curiosa para saber do que se tratava. Fiz fotos, conversei com alguns transeuntes e procurei um lugar para comer. De novo vi que a cidade não tem estrutura para receber visitantes. Não tinha um bar ou restaurante agradável.

Bom, eu tinha que aproveitar o lugar e na manhã seguinte, com a ajuda do proprietário da pousada, contratei um barqueiro (com o cuidado de que houvesse salva-vidas) para ir à ilha.

O casarão é o Cajaíba, construção do século 17, que mais recentemente foi palco da novela “Velho Chico”. O dono da pousada fez questão de dizer todo orgulhoso que ele participou, fazendo o papel de um dos coronéis do folhetim.

Sobre a edificação, segundo os locais, ainda é possível ouvir gritos e rangidos, que, dizem, seriam de pessoas ali escravizadas, maltratadas e torturadas pelo dono daquelas terras. Não sei se é lenda, mas basta imaginar aquele lugar no passado com a agricultura de café, açúcar, cacau às custas do trabalho escravo para se ter um cenário do que deve ter ocorrido ali.

Construção imponente

Fachada de casarão antigo, lago à frente
Cajaíba: Casarão do século 17 onde foi filmada “Velho Chico”

Pelas fotos, vocês podem ver que a entrada do casarão é singular. Logo na frente, antes da mureta que cerca a casa, tem uma escada que começa na água! As palmeiras imperiais dão um ar imponente que embeleza o quadro.

Descemos mais à frente, na parte que dá entrada para os currais. Sinceramente, o lugar é lindo, mas encontrei tudo muito abandonado, apesar da prefeitura manter funcionários guardando o patrimônio que passou recentemente para o Município.

Por ocasião da novela, o casarão foi reformado para atender às histórias ali desenvolvidas, só que terminadas as gravações não houve mais manutenção, segundo disseram e comprovei.

Como tenho uma imaginação muito criativa, talvez empreendedora (rs), logo me veio a ideia de transformar o lugar em um espaço de lazer (sem interferências na arquitetura), em que as pessoas pudessem visitar e conhecer sua história.

Um lugar com infraestrutura, como um café ou um pequeno restaurante para passar algumas horas agradáveis. Para o turismo seria ótimo e para a preservação da história também.

Gente, mas além de tudo isso, São Francisco do Conde é o município onde  foi inaugurada, em 1877,  a Escola Agrícola de São Bento das Lajes, que hoje está em ruínas.

Interior da Bahia: história desde D. Pedro II

Mulher com praia ao fundo
Regina, durante viagem à Bahia

De acordo com o trabalho de conclusão de curso de Artes Visuais de Antônio Marcos dos Santos Santana, “a instalação da Escola tem origem no decreto de fundação do Imperial Instituto Baiano de Agricultura, criado por D. Pedro II, por ocasião da viagem que empreendeu ao Norte do país”.

O intuito era modernizar o setor agrícola que passava por dificuldades. Também quis visitar o Convento e a Igreja de Santo Antônio, de 400 anos, mas estavam interditados porque precisam de reforma. Ambos são tombados pelo IPHAN.

Enfim, como podemos ver, a cidade tem potencial para o turismo voltado para a história, o patrimônio histórico, como tantas outras que temos nesse imenso país, mas…

Ainda tenho histórias para contar dessa viagem. Prometo que no próximo texto, se a Michele permitir, vou descrever um milagre que aconteceu comigo. Bom, eu vi assim…

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Referências:

A autoria e propriedade das fotos deste post são da jornalista profissional Regina Rocha Pitta (direitos reservados). Ela esteve na Bahia em janeiro de 2018.