Inspirada na mitologia Iorubá, IRETI é uma videoarte para assistir online grátis. Em montagem cênica de trinta minutos, o elenco conta a história de uma mãe preta e pobre, que gera, dá a luz e alimenta os filhos do Brasil. Mas depois, enfurecida, em meio à violência e miséria, reivindica seus direitos de criação e busca uma forma de acabar com o mundo em desequilíbrio.
A Cia do Despejo é quem dá vida à IRETI, com transmissões entre 15 de Abril e 19 de Julho de 2021, pelo YouTube. É ficção, mas qualquer semelhança com a história do nosso país não é mera coincidência. Segundo os criadores, trata-se de uma crítica à necropolítica brasileira e às violências sofridas pelas mulheres negras em nosso país. Por isso, a missão é dar voz a culturas afrodiaspóricas, que foram depreciadas ao longo da História.
Assim, a dramaturga Ingrid Alecrim conta que o texto surgiu da ideia de que o Brasil foi parido e aleitado por mulheres indígenas, africanas e afrodescendentes.
Nosso mundo é moldado através das mãos dessas mulheres, muitas vezes contra a vontade delas. Na colonização, tudo o que é frutífero ficará arrasado: a terra e suas preciosidades, o corpo feminino e sua capacidade de gerar os povos miscigenados, que já nascem sob dominação.
Ingrid Alecrim
As gravações foram feitas sem plateia e com todos os cuidados para prevenir a Covid-19. O texto de IRETI obteve o 4º lugar no edital de Dramaturgia em Pequenos Formatos Cênicos de 2019, do CCSP (Centro Cultural São Paulo). No elenco, Breno Furini, Isamara Castilho e Jennifer Souza.
Inspiração e narrativa de IRETI: videoarte para assistir online grátis

Então, a peça teatral em formato de videoarte é inspirada na figura de Nanã Buruku, orixá da mitologia Iorubá (povos de origem africana). Pois é da lama do seu domínio que foram criados os corpos humanos. Mas Nanã também é responsável pela desencarnação, ao exigir a devolução da matéria.
Dessa forma, a personificação de Nanã Buruku é quem conduz toda a narrativa de IRETI. A mãe preta e pobre constrói o Brasil com os próprios braços, mas depois acaba sendo deixada de lado. Então, em situação de miséria, terror e fome, vê seus filhos serem vitimados pela violência.
Em fúria, a grande mãe reivindica seus direitos de criação. Ela exige a devolução da matéria humana e procura uma forma de por fim ao mundo em desequilíbrio. A distopia prossegue, com guerrilhas urbanas e rurais que se expandem em uma guerra contra a governança brasileira.
“Ela toma as rédeas da existência humana, se colocando como uma figura central da história do Brasil, e não aceita ser musa, escrava, empregada ou ladra. Desse modo, deixa de ser protagonista de uma história silenciada e solitária e se assume como protagonista da nação”, explica a autora.
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Montagem cênica promove valorização de cultura ancestral

Um dos aspectos mais interessante da montagem é como são apresentados costumes e tradições dos povos indígenas e africanos, como rituais de cura e presenças míticas. “A mitologia Iorubá chegou ao Brasil por meio das pessoas escravizadas e sobrevive através de muita resistência, também inevitavelmente mesclada à cultura do colonizador”, explica a diretora da peça, Thaís Dias.
Por isso, além de valorizar as ancestralidades, IRETI denuncia todos os tipos de atrocidades cometidas contra a população negra desde a colonização. “A encenação já partiu de uma estética uterina, gestada coletivamente por uma equipe desejante desse nascimento”, conta Thaís.
Assim, a cenografia é composta por elementos suspensos, com objetos cênicos de Lui Cobra, que contribuem para a interação entre o elenco e o local da montagem.
Além disso, Duda Viana, responsável pelo figurino, criou para os personagens uma segunda pele nos mesmos tons terrosos do cenário. Mas são as máscaras, feitas por Cleydson Catarina, que “representam nossas vozes, as vozes das mulheres pretas desse Brasil e das nossas ancestrais”, destaca Thaís.
Onde e quando assistir a videoarte online grátis da peça IRETI
QUANDO: De 15 a 18 de Abril (quinta a domingo), de 13 a 16 de Maio (quinta a domingo), de
19 a 22 de Junho (sábado a segunda) e de 17 a 19 de Julho (sábado a segunda). Sempre começando às 20h, com 30 minutos de duração. Indicado para pessoas a partir de 16 anos.
ONDE: No canal no YouTube da Cia Mungunzá.
QUANTO CUSTA: Grátis.
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Referências: Texto editado pela jornalista Michele da Costa, com informações e imagens fornecidas pela assessoria de imprensa do evento. Crédito fotos: Duda Viana.